Curiosidades do mundo animal

Água-viva tem olho?

 
María Luz Thomann
Por María Luz Thomann, Bióloga e ornitóloga. 9 julho 2024
Água-viva tem olho?
Medusas

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As águas-vivas, pertencentes ao filo Cnidaria, têm uma aparência delicada e capacidade para sobreviver em uma ampla gama de habitats oceânicos, o que tem suscitado um interesse profundo em seus mecanismos sensoriais, especialmente em como percebem seu entorno. Embora as águas-vivas não tenham um cérebro centralizado, algumas espécies desenvolveram estruturas oculares complexas que lhes permitem enxergar de maneiras surpreendentes.

Você já se perguntou se as águas-vivas têm olhos? Se quiser descobrir a resposta para essa pergunta, não pode perder este artigo do PeritoAnimal, onde abordaremos a visão das águas-vivas, desde como detectam a luz até como utilizam sua visão para navegar, caçar e sobreviver no vasto e dinâmico mundo submarino.

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Índice
  1. As águas-vivas têm olhos ou não?
  2. Quantos olhos as águas-vivas têm?
  3. Como são os olhos das águas-vivas?
  4. Quais águas-vivas têm olhos?
  5. Como as águas-vivas enxergam?

As águas-vivas têm olhos ou não?

As águas-vivas possuem estruturas sensoriais chamadas "ropálios", localizadas na borda de sua umbrela (a estrutura em forma de sino que caracteriza muitas águas-vivas). Dentro dos ropálios, algumas águas-vivas têm órgãos visuais que podem ser considerados olhos, embora sejam muito diferentes dos olhos dos vertebrados.

A capacidade visual nas águas-vivas varia dependendo de sua ecologia e necessidades evolutivas. As águas-vivas que possuem olhos com lentes, como as cubomedusas, frequentemente habitam ambientes onde a capacidade de detectar e reagir a estímulos visuais é crucial para sua sobrevivência. Esses olhos as ajudam a navegar e se orientar, pois as águas-vivas podem detectar a luz e a escuridão para manter uma posição adequada na coluna d'água. Também auxiliam na caça e alimentação, permitindo que algumas espécies detectem e sigam suas presas. Elas podem evitar obstáculos, já que a capacidade de formar imagens lhes permite evitar colisões com objetos grandes e potencialmente perigosos.

Além de seus olhos, as águas-vivas possuem estatocistos, órgãos que as ajudam a manter o equilíbrio e a orientação na água. Outras de suas adaptações são as células sensoriais, distribuídas por todo o corpo e que detectam mudanças no ambiente, como a presença de presas ou predadores. Se quiser saber outras curiosidades das águas-vivas, não perca este artigo: "Água-viva: características e curiosidades".

Quantos olhos as águas-vivas têm?

A quantidade de olhos que as águas-vivas têm varia significativamente entre as diferentes espécies, e devemos ter em mente que nem todas as águas-vivas têm olhos. No entanto, as águas-vivas do tipo Cubozoa, como a vespa do mar, são especialmente conhecidas por seus sistemas visuais complexos..

As águas-vivas cubo, como as dos gêneros Carybdea e Chironex, são exemplos de complexidade visual, pois são as que possuem o maior número e a maior complexidade de olhos entre as espécies de águas-vivas. Estas águas-vivas possuem até 24 olhos distribuídos em quatro grupos (tetrasomas) ao redor de sua umbrela. Cada tetrasoma contém seis olhos de diferentes tipos:

  • Dois olhos com lente: capazes de formar imagens e distinguir formas.
  • Dois olhos de fenda: alguns estudos sugerem que podem ser usados para detectar luz e navegar.
  • Dois olhos ocos: mais simples, sensíveis apenas à intensidade da luz.

Esses olhos estão localizados nos ropálios, que também contêm outros órgãos sensoriais.

Para outras águas-vivas, como as da classe Scyphozoa (chamadas águas-vivas comuns), o número e o tipo de olhos são muito mais limitados e simples. Algumas águas-vivas dessa classe podem ter olhos primitivos que apenas detectam luz e escuridão, ajudando-as a se orientar verticalmente na água, mas não têm a capacidade de formar imagens.

Água-viva tem olho? - Quantos olhos as águas-vivas têm?

Como são os olhos das águas-vivas?

As águas-vivas cubo possuem um sistema visual notavelmente avançado para um animal sem um cérebro centralizado. Cada um dos quatro ropálios das águas-vivas cubo abriga seis olhos (dois com lente, dois de fenda e dois ocos), totalizando 24 olhos. Embora no parágrafo anterior tenhamos visto os tipos de olhos que as águas-vivas possuem, vamos conhecer mais detalhes sobre eles:

  • Olhos com lente: os olhos superiores com lente possuem uma lente esférica que lhes permite formar imagens. Esses olhos são comparáveis em função aos olhos de vertebrados e podem detectar detalhes no ambiente, como forma e movimento. Por outro lado, os olhos inferiores com lente são semelhantes aos superiores, mas orientados de forma diferente para proporcionar uma visão mais abrangente do ambiente.
  • Olhos de fenda: os olhos de fenda podem ser verticais, sendo mais simples e provavelmente detectam mudanças na luz e auxiliam na navegação. Os olhos de fenda horizontais complementam os olhos verticais para proporcionar um alcance visual mais amplo.
  • Olhos ocos: além disso, as medusas possuem olhos ocos simples, sem lentes. Esses olhos apenas detectam a intensidade da luz e ajudam a medusa a distinguir entre luz e escuridão.

As águas-vivas comuns (Scyphozoa), como a água-viva-lua (Aurelia aurita), possuem estruturas sensoriais menos complexas. Nesse caso, elas são chamadas de ocelos, que são manchas oculares simples que contêm células pigmentadas. Os ocelos não formam imagens; sua função principal é detectar a presença ou ausência de luz, o que ajuda a água-viva a manter sua orientação vertical na coluna d'água.

Quais águas-vivas têm olhos?

As águas-vivas que possuem olhos pertencem principalmente a dois grupos: as águas-vivas Cubozoa e algumas espécies dentro das escifozoas (Scyphozoa). As águas-vivas cubo são conhecidas por sua avançada capacidade visual. Essas águas-vivas possuem olhos relativamente complexos que lhes permitem uma melhor percepção do seu ambiente. Um exemplo destacado de águas-vivas cubo com olhos complexos inclui:

  • Chironex fleckeri (águas-vivas-vespa-do-mar): esta espécie possui 24 olhos organizados em quatro ropálios, cada um com seis olhos de diferentes tipos. Entre eles estão incluídos dois olhos com lentes capazes de formar imagens e outros mais simples para detectar luz e orientação.
  • Tripedalia cystophora: outra cubozoa com uma disposição semelhante de olhos, que lhe permite detectar e seguir suas presas no ambiente marinho.

As espécies da classe Scyphozoa, como mencionado, possuem estruturas oculares mais simples. Entre elas podemos encontrar:

  • Aurelia aurita (águas-vivas-lua): possui ocelos, que são manchas oculares primitivas que apenas detectam a luz e a escuridão. Esses olhos não formam imagens, mas auxiliam na orientação vertical na coluna d'água.
Água-viva tem olho? - Quais águas-vivas têm olhos?

Como as águas-vivas enxergam?

As águas-vivas enxergam de uma maneira única que não se assemelha à visão dos vertebrados. Sua capacidade de ver depende muito da espécie, mas, em geral, elas usam seus olhos para perceber o ambiente de maneiras especializadas e adaptadas às suas necessidades. Vamos ver como as águas-vivas enxergam com base nos tipos de olhos que possuem:

  • Águas-vivas com olhos complexos: Águas-vivas com olhos complexos: para as águas-vivas que possuem olhos mais complexos, como as cubozoas, a visão envolve a detecção de luz e a formação de imagens. Esses olhos têm lentes e retinas que lhes permitem focalizar a luz e detectar objetos em seu ambiente. Embora as imagens que formam não sejam tão claras quanto as vistas pelos vertebrados, são detalhadas o suficiente para reconhecer formas e movimentos. Isso é crucial para tarefas como caça de presas e para evitar obstáculos. Os sinais visuais são processados em um sistema nervoso descentralizado, já que as águas-vivas não têm um cérebro central. No entanto, suas redes neurais lhes permitem coordenar respostas rápidas aos estímulos visuais, ajustando sua natação e comportamento conforme o que percebem.
  • Águas-vivas com olhos simples: por outro lado, as águas-vivas que possuem olhos mais simples, como muitas das escifozoas, usam a detecção básica de luz para orientar seu comportamento. Esses olhos, ou ocelos, não formam imagens, mas podem perceber mudanças na intensidade da luz. Essas informações são cruciais para ajudar as águas-vivas a se manterem orientadas e a regular sua posição na água. Por exemplo, elas podem se mover para áreas com mais luz para acessar áreas onde é mais provável encontrar alimento, ou evitar áreas que indiquem a presença de superfícies perigosas ou predadores.

A visão das águas-vivas também está relacionada a outros sistemas sensoriais. Os estatocistos, que detectam a gravidade e a posição, trabalham em conjunto com os olhos para fornecer uma imagem mais completa do ambiente. Isso ajuda as águas-vivas a manter o equilíbrio e se orientar corretamente na água, permitindo uma navegação eficiente mesmo em condições de baixa visibilidade.

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Bibliografia
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