Curiosidades do mundo animal

Anatomia do caranguejo

 
María Luz Thomann
Por María Luz Thomann, Bióloga e ornitóloga. 12 agosto 2024
Anatomia do caranguejo

Os caranguejos fazem parte da ordem Decapoda e constituem um grupo muito diverso de espécies dentro da família Brachyura. Eles possuem uma grande diversidade de formas e adaptações, bem como uma anatomia interna e externa profundamente especializada. Com suas características pinças e seu andar peculiar, os caranguejos escondem partes anatômicas fascinantes, adaptadas para sobreviver em diversos habitats aquáticos e até terrestres.

Se você deseja conhecer todas as partes do corpo do caranguejo, não pode perder este artigo do PeritoAnimal, onde falaremos sobre a anatomia desses animais maravilhosos. Continue lendo!

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Índice
  1. Carapaça
  2. Cefalotórax
  3. Abdômen
  4. Extremidades
  5. Partes internas
  6. Outras partes do caranguejo

Carapaça

Se falamos das características do caranguejo, a primeira coisa que nos vem à mente é sempre o seu exoesqueleto. Também conhecido como carapaça, é uma estrutura vital nos caranguejos, pois funciona como um escudo protetor e uma plataforma para a união de músculos e apêndices. É composto principalmente por quitina, um polímero nitrogenado resistente e flexível, impregnado com carbonato de cálcio, proporcionando rigidez e dureza, fatores essenciais para a proteção.

A carapaça consiste em várias camadas:

  • Epicutícula: a camada mais externa, fina e cerosa, que previne a perda de água e protege contra substâncias químicas.
  • Exocutícula: uma camada mais espessa que proporciona a maior parte da dureza.
  • Endocutícula: a camada interna mais flexível, que permite algum movimento.

Funções

A carapaça atua como uma armadura que protege o caranguejo de predadores, lesões e condições ambientais adversas. Além disso, fornece suporte para a musculatura interna e permite a união de músculos através de inserções no interior da carapaça. À medida que o caranguejo cresce, ele precisa mudar sua carapaça em um processo chamado ecdise, que permite renovar sua estrutura externa.

A carapaça pode variar em sua forma de acordo com a espécie. Alguns possuem forma ovalada, outros retangular. Além disso, a cor também pode variar, sendo que algumas espécies podem apresentar cores vivas, enquanto outras exibem padrões que facilitam a camuflagem ou a comunicação.

Cefalotórax

O cefalotórax é uma das partes vitais dos caranguejos, combinando a cabeça e o tórax em uma única unidade estrutural coberta pela carapaça. Essa fusão permite uma proteção eficiente dos órgãos internos e fornece uma estrutura rígida para a união de músculos e apêndices.

Cabeça

A cabeça do caranguejo está equipada com estruturas sensoriais cruciais que facilitam a interação com o seu entorno: os olhos, as antenas e as antênulas. Estas partes estão adaptadas para detectar mudanças no ambiente, encontrar alimento e se comunicar.

  • Rostro: Localizado na parte frontal, é uma projeção da carapaça que varia em forma e tamanho conforme a espécie. Por exemplo, nos caranguejos violinistas, o rostro é proeminente e usado no cortejo.
  • Olhos: Estão situados em pedúnculos móveis, que permitem uma ampla gama de movimento e uma vista panorâmica. Esses olhos compostos são formados por múltiplos omatídeos, pequenas unidades ópticas que captam luz e detectam movimento e mudanças na intensidade da luz. Essa estrutura é especialmente útil para detectar predadores e presas no ambiente aquático. A capacidade de retrair os olhos em espécies como o caranguejo violinista oferece proteção adicional contra danos.
  • Antenas: Situadas logo atrás dos olhos, são longas e segmentadas, tendo a função primordial de detectar estímulos químicos na água. Agem como sensores olfativos e táteis, ajudando o caranguejo a localizar alimento e parceiros. As antenas são altamente sensíveis a mudanças no ambiente químico, permitindo perceber sinais de possíveis presas ou predadores, além de servir na comunicação entre indivíduos.
  • Antênulas: Estruturas menores, localizadas à frente das antenas, também segmentadas e desempenham um papel crucial no equilíbrio e na detecção de estímulos químicos e mecânicos. As antênulas contêm estatocistos, órgãos sensoriais que ajudam os caranguejos a manter o equilíbrio e se orientar em seu ambiente, especialmente útil em águas turbulentas ou quando o caranguejo se move sobre superfícies irregulares. Além disso, as antênulas ampliam a capacidade sensorial do caranguejo, contribuindo para a navegação e exploração de seu entorno.

Em conjunto, essas partes da cabeça dotam o caranguejo de um conjunto sensorial avançado, crucial para a sobrevivência em diversos habitats, ajudando-o a evitar predadores, buscar alimento e se comunicar com outros caranguejos, otimizando sua capacidade de adaptação e sucesso na vida aquática e terrestre.

Tórax

O tórax do caranguejo é composto pelas seguintes partes externas:

  • Pereópodes: São as patas caminhadoras usadas para a locomoção.
  • Quelípedos: Ou pinças, são apêndices proeminentes que se estendem do cefalotórax e são usados para a defesa, manipulação de alimentos e, em algumas espécies como os caranguejos violinistas, em comportamentos de cortejo. Em espécies como o caranguejo azul, uma pinça costuma ser maior e especializada para cortar ou triturar.

Além disso, internamente, o cefalotórax abriga as brânquias, órgãos cruciais para a troca de gases, permitindo a respiração aquática, assim como o restante dos órgãos do caranguejo (sistema nervoso, coração, estômago, entre outros).

As variações na estrutura do cefalotórax refletem adaptações evolutivas a diferentes habitats. Por exemplo, nos caranguejos eremitas, o cefalotórax é mais flexível para permitir a retração nas conchas. Nos caranguejos de rio, o cefalotórax é mais alongado e estreito, adequado para a vida em água doce. Os caranguejos azuis têm um cefalotórax largo e achatado com grandes quelípedos adaptados para capturar presas.

Anatomia do caranguejo - Cefalotórax

Abdômen

O abdômen do caranguejo é uma região posterior ao cefalotórax, crucial na reprodução e na estrutura geral do corpo. Em caranguejos verdadeiros (braquiúros), o abdômen é reduzido e se dobra sob o cefalotórax, uma adaptação que protege os órgãos reprodutivos e proporciona um corpo compacto ideal para habitats bentônicos.

Nos machos, o abdômen é estreito e triangular, enquanto nas fêmeas é mais largo para acomodar os ovos durante a incubação. Principalmente, compõe-se das seguintes partes:

  • Pleópodos: localizados na parte ventral do abdômen e possuem adaptações essenciais: em machos os pleópodos são modificados como gonópodos para a transferência de esperma; em fêmeas, os pleópodos seguram e protegem os ovos fertilizados.
  • Segmentos Musculares: facilitam movimentos e, em caranguejos eremitas, por exemplo, são mais longos e adaptados para se retraírem em conchas, proporcionando defesa e mobilidade.

Funções

Além das funções mencionadas, em espécies nadadoras, como o caranguejo azul, o abdômen é plano para contribuir a uma natação eficiente. A variabilidade do abdômen entre espécies reflete sua adaptação a diferentes habitats, desde a natação em águas abertas até a vida em terra firme.

Além disso, o abdômen desempenha uma função reprodutiva, pois contém os gonóporos, aberturas genitais que permitem a liberação de gametas. Esta estrutura multifuncional é fundamental para a sobrevivência e o sucesso evolutivo dos caranguejos, integrando proteção, reprodução e adaptação ao ambiente.

Extremidades

As extremidades do caranguejo, compostas por quelípodes (pinças), pereiópodes (patas caminhadoras) e pleópodes (patas nadadoras), são estruturas essenciais para sua mobilidade, alimentação, defesa e reprodução. Vamos examinar cada uma delas:

  • Quelípodes: são grandes pinças localizadas na frente do caranguejo e emergem do cefalotórax. Essas extremidades são robustas e possuem uma estrutura composta por um propódio (parte fixa) e um dáctilo (parte móvel), o que permite um poderoso movimento de fechamento. São usadas para defesa, manipulação de alimentos e no cortejo, como nos caranguejos-violinistas, onde uma pinça é maior e usada para atrair parceiros.
  • Pereiópodes: são os principais apêndices para caminhar. Geralmente consistem em cinco pares, sendo o primeiro par modificado como quelípodes. Os outros quatro pares permitem uma locomoção lateral eficiente, característica distintiva de muitos caranguejos, sendo cruciais para escavação e deslocamento em diversos ambientes.
  • Pleópodes: estão localizados no abdômen, têm funções reprodutivas e em algumas espécies são usados para natação. Nos machos, são modificados como gonópodes para transferência de esperma; nas fêmeas, seguram e ventilam os ovos. Em caranguejos nadadores, esses apêndices são planos e atuam como remos para natação.

Gostaria de saber mais detalhes? Podemos explorar todos eles em outro artigo: "Quantas patas tem um caranguejo?".

Funções

Essas extremidades estão adaptadas para maximizar a eficiência em seu ambiente, facilitando desde a predação até os cuidados parentais e permitindo a ocupação bem-sucedida de diversos habitats aquáticos e terrestres.

Anatomia do caranguejo - Extremidades

Partes internas

As partes internas do caranguejo incluem sistemas complexos que permitem a respiração, circulação, digestão e reprodução: as brânquias, o coração, o estômago e as gônadas. Vamos começar pelas partes do caranguejo que compõem a respiração e a circulação:

  • Brânquias: estão localizadas nas câmaras branquiais em ambos os lados do cefalotórax, protegidas pela carapaça. São estruturas filamentosas em forma de penas, compostas por uma série de lâminas ou filamentos que maximizam a área de troca de gases. As brânquias filtram oxigênio da água que passa sobre elas e eliminam dióxido de carbono, permitindo a respiração. Também desempenham um papel na excreção de resíduos e na osmorregulação, ajudando o caranguejo a equilibrar o conteúdo de sal e água em seu corpo. O movimento das extremidades próximas ajuda a manter um fluxo constante de água sobre as brânquias, assegurando um suprimento contínuo de oxigênio.
  • Coração: é um órgão muscular alongado localizado dorsalmente no corpo, logo abaixo da carapaça. Funciona como a bomba central no sistema circulatório aberto dos caranguejos, onde a hemolinfa (um líquido equivalente ao sangue) é bombeada através de um sistema de seios e vasos. A hemolinfa transporta oxigênio e nutrientes para os tecidos e órgãos, e recolhe resíduos metabólicos para excreção. O coração tem um ritmo controlado por gânglios nervosos e sua ação é crucial para a distribuição eficiente de oxigênio e nutrientes pelo corpo do caranguejo.

Quanto ao sistema digestivo, o estômago do caranguejo está dividido em duas câmaras:

  • Estômago Cardíaco: Localizado logo atrás do cefalotórax, contém uma estrutura chamada molinete gástrico, que tritura o alimento através de uma série de placas e dentes calcificados.

  • Estômago Pilórico: Localizado mais para trás, atua como um filtro, separando as partículas digeridas antes de passarem para o intestino médio para absorção de nutrientes. Esta separação assegura que apenas os nutrientes processados alcancem o intestino, melhorando a eficiência digestiva. Neste sistema, as glândulas digestivas (hepatopâncreas) secretam enzimas que auxiliam na digestão e absorção de nutrientes.

Por fim, as gônadas são os órgãos reprodutivos, localizados dorsalmente no corpo, entre o coração e o estômago. Nos machos, são testículos que produzem esperma; nas fêmeas, são ovários que produzem ovos. Durante a temporada de reprodução, as gônadas aumentam de tamanho e o desenvolvimento dos gametas é acelerado. Os espermatozoides são transferidos para as fêmeas através dos gonópodes durante o acasalamento, e os ovos fertilizados são transportados para as câmaras branquiais ou aderidos ao abdômen da fêmea para incubação. O desenvolvimento das gônadas é influenciado por fatores ambientais e hormonais e desempenha um papel crucial no ciclo reprodutivo dos caranguejos.

Outras partes do caranguejo

Além das partes principais do caranguejo, existem outros componentes especializados que desempenham funções específicas na sua alimentação e manipulação de alimentos:

  • Boca: está localizada na parte inferior do cefalotórax, mais precisamente no tórax, entre as patas dianteiras.
  • Maxilípedos: são apêndices modificados situados ao redor da boca do caranguejo. Esses apêndices estão adaptados para manipular alimentos e guiá-los em direção à boca. Funcionam como ferramentas para segurar, cortar e transportar alimentos até as mandíbulas para posterior trituração e digestão.
  • Mandíbulas: estão localizadas na boca do caranguejo e são estruturas fortes e calcificadas que desempenham um papel crucial na trituração e processamento de alimentos. Essas estruturas são projetadas para cortar e moer materiais duros como conchas de crustáceos, moluscos e outros invertebrados, facilitando a digestão eficiente.

Esses componentes adicionais são essenciais para a alimentação e processamento de alimentos do caranguejo, garantindo que ele possa obter e aproveitar adequadamente os nutrientes do seu ambiente.

Anatomia do caranguejo - Outras partes do caranguejo

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Bibliografia
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