Curiosidades do mundo animal

Gatos podem ter autismo?

 
Carla Moreira
Por Carla Moreira, Médica veterinária. 27 junho 2024
Gatos podem ter autismo?
Gatos

Ver fichas de  Gatos

Os problemas de comportamento em gatos é uma das principais causas de abandono, resultando em muitos animais doados para abrigos ou eutanasiados. Alterações comportamentais podem comprometer o bem-estar do gato e na sua relação com o tutor.

Comportamentos classificados como problemáticos pelos tutores podem ser apenas um comportamento natural do gato, como marcação de territórios com urina, arranhar objetos e não querer socializar com pessoas e outros pets.

E é nesse momento, da falta de socialização de alguns gatos, que foi chamada a atenção das pessoas para uma possibilidade de os gatos terem autismo, assim como as pessoas. Mas será que os gatos podem ter autismo? Descubra mais sobre o assunto neste artigo que o PeritoAnimal elaborou especialmente para o leitor amante de gatos!

Também lhe pode interessar: Animais podem ter Síndrome de Down?
Índice
  1. Gatos podem ter autismo?
  2. Por que não é possìvel provar que gatos tenham autismo?
  3. Por que meu gato não socializa?
  4. Como ajudar um gato que tem dificuldade de socialização?

Gatos podem ter autismo?

Embora algumas atitudes dos gatos sejam similares ao autismo em humanos, não podemos afirmar que esse quadro esteja presente nos gatos. Mesmo porque, para que seja concluído um diagnóstico de transtorno do espectro autista em pessoas, são necessários exames e análises neurológicas, o que nem sempre é possível nos gatos, pois muitos dos comportamentos associados ao autismo fazem parte da personalidade do bichano.

Atualmente, não existe nenhuma comprovação científica de que os gatos possam ter transtorno do espectro autista, e o comportamentos como a falta de interação social devem ser investigados, pois geralmente decorrem de falhas ao considerar as necessidades dos gatos, condições ambientais ou mudanças no ambiente, expectativas irreais do tutor ou da interação inadequada entre tutor e gato.

Por que não é possìvel provar que gatos tenham autismo?

Atualmente, não existem relatos de gatos com transtorno do espectro autista. Em pessoas, o diagnóstico de autismo é realizado de forma clínica, não sendo necessários exames para tal. Ocorre a observação do comportamento da pessoa em conjunto com o relato dos pais. Por esse motivo, não é possível dizer que um gato possui autismo apenas pela observação do seu comportamento.

Atitudes do gato que levam as pessoas a acreditarem que possuem um bichano autista, como comportamentos repetitivos, falta de socialização, apatia e dificuldade com mudanças em sua rotina podem ser atribuídas a vários outros fatores. Problemas de saúde, má socialização ou até mesmo o temperamento do gato podem ser responsáveis por esses comportamentos.

Por que meu gato não socializa?

A interação entre os gatos e as pessoas é bem antiga. Os gatos se aproximavam de locais de armazenamento de grãos utilizados para alimentação humana na intenção de caçar roedores. Para os homens, os gatos faziam um serviço útil, livrando sua comida dos tão temíveis roedores. E do outro lado, o gato se beneficiava ao ter comida abundante (ou ratos abundantes). Era uma relação de mutualismo.

No entanto, a domesticação do gato não resultou, logo de pronto, em modificações em seu comportamento natural e nem em seleção genética. Isso leva a uma discussão se os gatos teriam se “autodomesticado”, sem contribuição do homem nas suas mudanças. Tempos depois, o ser humano conseguiu domesticar os gatos de forma gradual e cada vez mais significativa, mas os bichanos ainda mantêm muito do comportamento de seus ancestrais selvagens.

Dentre os comportamentos ancestrais conservados pelo gato doméstico, encontra-se a dificuldade em socializar com outros animais. O gato é um animal solitário, sendo normal querer um isolamento. Além disso, é um animal extremamente territorial.

Por este motivo, muitos problemas de comportamento resultam de uma falha ao considerar as necessidades do gato, as condições ambientais ou mudanças no ambiente, além das expectativas irreais dos tutores em ter um gato com comportamento semelhante ao de um cachorro.

Então, da próxima vez que você achar que seu gato é antissocial, lembre-se de que ele mantém partes do comportamento de seus ancestrais, que viviam isolados, sem a necessidade de socializar com outros animais. A socialização entre gatos e mesmo com outros animais exige tempo, paciência e conhecimento do comportamento natural do felino. Abaixo você encontra um vídeo com dicas de como acostumar um gato com outro.

Como ajudar um gato que tem dificuldade de socialização?

A partir da terceira semana de vida, os gatos entram na fase de socialização primária, quando estarão no momento de maior suscetibilidade à diferentes estímulos e, por meio de experiências individuais, a personalidade do gato é moldada. Caso o gato não seja socializado nessa fase da vida, poderá apresentar e desenvolver vários distúrbios comportamentais.

Dessa forma, no período de socialização primária (3ª a 8ª semana de vida), deve-se expor os animais a diferentes situações, prover o contato com diversas pessoas e animais, fornecer enriquecimento ambiental, expor o animal a diferentes sons e prezar pela adaptação com toques para manejos futuros.

Já o período de socialização tardia (9ª a 16ª semana de vida) é predominantemente direcionado a habilidades sociais, onde há intensas brincadeiras sociais e individuais, bem como de exploração ambiental. Com a chegada da adolescência (17ª semana), as sessões podem ser suspensas, entretanto, preconiza-se que todos os aprendizados sejam reforçados positivamente até a vida adulta.

Caso o gato nunca tenha passado por essas fases de socialização, sendo considerado selvagem, o processo será bem mais lento e exigirá muita paciência do tutor. A ambientação deve ser gradual, deixando o bichano conhecer os diversos cômodos da casa devagar, aos poucos, até que se sinta seguro no ambiente.

Caso haja outros animais na casa, algum objeto com o cheiro desse pet poderá ser colocado no cômodo onde o gato está, fazendo com ele se acostume com o cheiro do outro. Também pode ser permitido que eles se vejam através de uma porta de vidro ou mesmo por debaixo da porta, para que tenham um primeiro contato.

Mas nunca se deve forçar o contato, não permitindo que briguem ou se machuquem. Dessa forma, e com o passar do tempo, pode ser que o gato fique mais sociável. No entanto, alguns animais nunca conseguem ter um comportamento dócil e receptivo.

Se deseja ler mais artigos parecidos a Gatos podem ter autismo?, recomendamos-lhe que entre na nossa seção de Curiosidades do mundo animal.

Bibliografia
  • Paz, J.E.G., Machado, G., Costa, F.V.A. Fatores relacionados a problemas de comportamento em gatos. Pesq. Vet. Bras., 2017. Disponível em chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.scielo.br/j/pvb/a/kh3zCcN9BfcXT8xys5W4XSK/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 06/05/2024.
  • Dantas, L.M.S. Comportamento social de gatos domésticos e sua relação com a clínica médica veterinária e o bem-estar animal. Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Veterinária, 2010. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/Comportamento-social-de-gatos-dom%C3%A9sticos.pdf. Acesso em 06/05/2024.
  • Johnke, J.A. et al. Validação de um protocolo de socialização e dessensibilização em filhotes de gatos domésticos (Felis silvestres catus) residentes em lares temporários. Brazilian Journal of Development, 2022. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/052+BJD.pdf. Acesso em 06/05/2024.
Escrever comentário
Adicione uma imagen
Clique para adicionar uma foto relacionada com o comentário
O que lhe pareceu o artigo?
Gatos podem ter autismo?